domingo, 4 de abril de 2010

Texto jornalístico

Elogio à técnica
Processo de desenvolvimento tecnológico ajuda a compreender as contradições do sistema capitalista

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
COLUNISTA DA FOLHA

É técnica a questão da técnica. Não coloca o problema da procura de sua verdade, de como ela nos relaciona de modo muito específico com o Ser. E o motivo é muito simples, pois me parece que existem técnicas e técnicas, e não vejo a possibilidade de encaixar, sob uma única cláusula, os mais diversos relacionamentos que os seres humanos mantêm com o universo mediante construções feitas por eles mesmos.
No final das contas, a linguagem também não é uma técnica de transformar sinais em símbolos? Do mesmo modo, o discurso sobre a técnica, a tecnologia, teórico ou prático, continua a ser uma fala ligada a procedimentos de experimentação e construção.
Em resumo, a oposição radical entre conhecimento e técnica não mais existe, se já existiu, de sorte que interessa examinar o que se entende quando se fala do saber e do fazer desse do ponto de vista.

Perigo e responsabilidade
Não cabe menosprezar os perigos da tecnologia, os efeitos colaterais das novas drogas, o inesperado cansaço de materiais artificialmente submetidos a pressões adversas assim como as técnicas da guerra e dos campos de concentração.
Mas esses perigos no mínimo são equiparáveis àqueles processos naturais em transformação, tais como erupções vulcânicas fantásticas, terremotos e tsunamis avassaladores e assim por diante. Nesse ponto, a questão é de responsabilidade.
Mas não exageremos esse ponto, pois, se falamos ao telefone e assistimos à televisão sem entender o que se passa além de sua aparência, isso sempre valeu para o ato de alimentar, pois pouquíssimos são aqueles que sabem da digestão de um grão de trigo.
Além disso, é simplesmente ideológico imaginar que tudo o que vem da natureza é bom.
No final das contas, o veneno das aranhas e o ópio são produtos naturais, mas no veneno da jararaca se encontrou uma substância que tem sido muito usada no tratamento da hipertensão. No fundo dessa posição ingênua reside o postulado de que a natureza é obra divina feita sem trabalho, embora Jeová tenha descansado depois de seis dias de criação.
Desde os primórdios da filosofia, essa idéia religiosa se tornou leiga, inspirando um duplo conceito de razão. O primeiro, substantivo, que indaga de onde nós viemos, o que nós somos e o que deveríamos ser; o segundo, meramente técnico, pelo qual, dados certos fins, se procuram os meios para que sejam realizados.
Em que medida a procura dos meios também não configura o fim visado? Aqui nos interessa, porém, outro lado da questão: parte da filosofia contemporânea tem deixado de lado esses conceitos de razão porque questiona essa diferença na medida em que hoje sabemos que qualquer raciocínio efetivo pode ser reconstruído por sistemas formais, por lógicas diferentes.
Nem mesmo a análise de conceitos se livra de métodos construtivos. Em suma, o sólido terreno da lógica, até então pensado como pavimento dos procedimentos racionais, também pode ser pensado tecnologicamente. Daí uma determinação recíproca muito variada entre conhecimento e tecnologia, um lado colocando problemas para o outro e vice-versa.
Conhecimento e técnica só podem então vir a ser perigosos no seu uso, particularmente no seu uso social.
Se este também é técnico, o é na medida em que inclui técnicas de controle, toda uma rede de instituições que lutam para criar e se apropriar da tecnociência em seu proveito.
Não existem dois planos separados, esse da tecnociência e aquele de seu emprego no contexto quer da concorrência cruzada entre instituições privadas e estatais, quer no conflito entre as nações. Precisando: são essas instituições particularizadas ou globalizadas que dirigem o "mainstream" do progresso das ciências e das técnicas.

Progresso
Já na fase mais elementar do financiamento de um projeto de pesquisa, a liberdade de escolha é conformada pelas políticas de Estado, pelas fundações financiadoras, pelo sistema de publicação dos novos conhecimentos e, sobretudo, pela conversão da teoria num produto pelos grandes institutos e laboratórios privados.
É sabido que a invenção científica e tecnológica tem passado ao largo das universidades que, se não se encaixam nas redes de produção tecnocientífica, tendem a produzir apenas mão-de-obra qualificada.
Não se deduza dessas minhas indicações que estou pulando de contente com o extraordinário progresso do conhecimento e da tecnologia que experimentamos desde os meados do século 19. Se o avanço da tecnociência me admira quando nos dá instrumentos extraordinários para resolvermos nossos problemas atuais, igualmente me horroriza quanto tais instrumentos são postos em razão de políticas assassinas.
Os instrumentos das ciências e das técnicas nunca foram neutros do ponto de vista político, mas a partir dos meados do século 19 começa um crescimento exponencial de novas teorias e do número de pesquisadores, na medida em que a produção da ciência se torna uma força produtiva. Sempre saber e poder fazer mais criaram vantagens no embate entre as nações.
Mas, claramente depois da Segunda Guerra Mundial, esse processo de ganhar na margem se converte numa luta de ganhar pela ampliação e controle dessa margem.

Explorar a contradição
Siracusa podia imaginar que queimaria a frota inimiga utilizando os espelhos concêntricos desenhados por Arquimedes; o doge podia imaginar que a luneta apresentada por Galileu lhe traria vantagens contra os inimigos de Veneza; mas a corrida pela fabricação da bomba atômica não se resumiu a uma apropriação de teorias feitas, mas se abriu numa corrida vertiginosa para obter novos conhecimentos, somente disponíveis graças ao investimento de capitais fabulosos.
Em que medida o circuito desses capitais determina e é determinado pelo desenvolvimento do saber fazer? Isso se reproduz nos tempos de paz, quando, por exemplo, a associação entre o Estado e a indústria bélica americanos se torna tão potente que o inimigo interno, em particular a guerrilha, se torna muito mais importante do que o inimigo externo.
E a guerrilha não é antes de tudo a vontade de usar procedimentos elementares para emperrar a grande máquina do mundo cotidiano?
Não tem mais sentido dizer que mesmo a produção da ciência pode ser feita para o bem ou para o mal. Ela progride pelo empuxo dos mais fortes politicamente, mas a cada passo adiante ela também abre poros nesse grande sistema, exibindo suas contradições.
De um lado, não há a tecnociência; de outro, há o controle de tudo o que é novo pela dinâmica do capital. A pergunta não consiste então no modo como se exploram a contradições para que uma nova forma de sociabilidade, menos predadora, possa ser pelo menos sonhada?
E o sonho não é técnico.


JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e coordenador da área de filosofia do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve regularmente na seção "Autores".

A práxis pedagógica presente e futura e os conceitos de verdade e realidade frente às crises do conhecimento no século xx: Maria Helena Bonilla.

No texto de Bonilla inicialmente ela aborda á questão relacionada ao conceito de verdade e realidade; questão essa que está relacionada ao pensamento humano e sua ação e que segundo Bohm (1989:143) depende da ordem, momento histórico e sociedade, sendo assim surgem as diferentes ideias de ordem dando existência a uma nova cosmovisão. Segundo Bonilla a ligação entre o homem com a natureza passa a ser considerada interativa.
Em um outro momento do texto a autora fala sobre a questão da práxis pedagógica, momento esse que mais chamou minha atenção no texto, pois a mesma fala que á escola dos dias de hoje trabalha no propósito de reprodução e transmissão do modelo hegemônico, fechada à exterioridade. Sendo assim onde fica as transformações que vem ocorrendo nos dias atuais?.
Bonilla em seu texto questiona esse modelo de escola que não consegue abranger complexidade do mundo atual, onde para a mesma precisa acontecer mudanças profundas na sala de aula que reúna novas formas de ser, pensar e de agir,principalmente com a presença das tecnologias da informação e da comunicação ( pg 78,2005,BONILLA).

TEXTO DE